Por Marília Gonçalves, do Observatório de Favelas
Um clima diferente tomou conta de parte do campus do Fundão, na UFRJ, na segunda-feira, dia 27. Quem chegou para a aula no Centro de Tecnologia da Universidade, pôde ouvir o som dos tambores vindo de um auditório ali de perto. Era o som da mística que abriu o evento de lançamento do projeto Etnodesenvolvimento e Economia Solidária.
No palco do auditório, professores, pesquisadores e alunos da universidade, quilombolas e uma funcionária responsável pela limpeza do local, uniram-se numa roda de dança contagiante.
O lançamento reuniu cariocas, mineiros, baianos, entre outros, que trabalham juntos no projeto que pretende fomentar a Economia Solidária em comunidades quilombolas de todo o país. O projeto Etnodesenvolvimento e Economia Solidária é desenvolvido pelo Núcleo de Solidariedade Técnica da UFRJ (SOLTEC/UFRJ) em parceria com a Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq), a Fundação COPPETEC e a Secretaria Nacional de Economia Solidária (Senaes). Ele faz parte do programa nacional Brasil Local, que abrange outros oito projetos e é articulado nacionalmente pela Cáritas Brasil.
Ao todo serão atingidas aproximadamente 37.000 pessoas, em 105 comunidades quilombolas espalhadas por 11 estados brasileiros. Iniciativas de empreendimentos econômicos solidários serão identificadas, e uma formação em cooperativismo e associativismo será feita. A ideia é articular a formação de cadeias produtivas e redes entre os produtores quilombolas, para possibilitar o etnodesenvolvimento dos quilombos.
Além disso, uma pesquisa-ação irá mapear o patrimônio histórico, artístico e cultural das comunidades, e todas as famílias serão visitadas para a realização de um censo quilombola. Para Ronaldo dos Santos, representante do Conaq no lançamento, é muito importante que o projeto chegue aos quilombos em áreas rurais. “Enquanto o movimento negro urbano está lutando por cotas nas universidades, nós quilombolas estamos lutando pela implantação de escolas de 1ª a 4ª série”, afirma.
A coordenadora executiva do projeto, Sandra Mayrink Veiga, lembra na apresentação que o conceito de desenvolvimento usado pelo projeto não é o mais comum. Desenvolvimento, segundo ela, passa por “bem viver”, e só quem pode dizer o que precisa para viver melhor são, neste caso, os próprios quilombolas. Por isso, eles serão os protagonistas de todo este processo.