Fonte: www.forummarcoregulatorio.org.br/ver_noticia.php?noticia=1025

Preocupados com a criminalização das organizações da sociedade civil – OSCs e, por outro lado, com a tendência de certos setores do governo que acreditam ser onipotentes, oniscientes e onipresentes e, como agravante vêem tirando o espaço e prejudicando as iniciativas das OSCs, o Projeto Marco Regulatório da Fundação Esquel, em conjunto com outras redes e instituições, inicialmente listadas abaixo, estão apresentando esta Plataforma aos (às) candidatos (as) à Presidência da República para a construção de um novo Marco Regulatório para as OSCs.

Adendo: A candidata Dilma Rousseff respondeu a esta Plataforma em outubro de 2010. A resposta encontra-se em www.fbes.org.br/?option=com_content&task=view&id=5532&Itemid=62

Plataforma por um novo Marco Regulatório para as Organizações da Sociedade Civil

Caríssimos/as Candidatos/as à Presidência da República,

As articulações, redes, movimentos e organizações que subscrevem esse documento, apresentam aos/às candidatos/as à Presidência da República, uma Plataforma para Construção de um Novo Marco Regulatório que consolide uma relação harmônica e construtiva com o Estado, os governos e com a própria sociedade.

As reivindicações estão embasadas na necessidade de uma política de Estado com instrumentos e mecanismos que assegurem a autonomia política e financeira das OSCs para o fomento à participação cidadã, no sentido de contribuir para a radicalização da democracia, a revitalização de processos contemplando instrumentos deliberativos e de controle social. Ademais, tal política deve favorecer a independência, autonomia e sustentabilidade institucional das OSCs e deve, necessariamente, abarcar:

Processos e instâncias efetivos de participação cidadã nas formulações, implementação, controle social e avaliação de políticas públicas;

Instrumentos que possam dar garantias à participação cidadã nas diferentes instâncias;

O estímulo ao envolvimento da cidadania com as causas públicas, criando um ambiente favorável para a autonomia e fortalecimento das OSCs;

Mecanismos que viabilizem o acesso democrático aos recursos públicos e que permitam a operacionalização desburocratizada e eficiente das ações de interesse público;

Um regime tributário apropriado e favorecido às OSCs, incluindo a criação e aprimoramento de incentivos fiscais para doações de pessoas físicas e jurídicas.

Para sua consecução propõe-se a constituição de um Grupo de Trabalho, composto por representações das OSCs e dos diversos segmentos estatais, que possam abranger a diversidade de temas e interesses na esfera pública, sob liderança da Secretaria da Presidência da República, com forte envolvimento da Casa Civil, no sentido de elaborar, no prazo máximo de um ano, uma proposta de legislação que atenda de forma ampla e orgânica, os tópicos aqui colocados.

Contexto e fundamentação

Foram identificadas, em 2005, num estudo do IBGE (Fasfil), 338 mil Fundações Privadas e Associações sem Fins Lucrativos, aqui chamadas de Organizações da Sociedade Civil (OSCs). O estudo mostra que, sob qualquer critério analítico adotado, existe uma extrema diversidade e pluralidade neste segmento.

Do ponto de vista político, é inegável a contribuição destas OSCs à reconstrução democrática brasileira. Muitas delas tiveram papel proeminente no processo de redemocratização que culminou na Constituição de 1988. Foram protagonistas de iniciativas pioneiras em diversas áreas sociais, animaram articulações e redes cidadãs com base nas quais se construíram propostas que, pouco a pouco, se consolidaram como políticas públicas e em propostas de ação implementadas efetivamente no País.

Sob outra ótica, dados das Contas Nacionais indicam que o conjunto deste segmento institucional contribuiu (em 2005) com um valor de 1,2% do PIB (estimativa via dados IPEA/IBGE). Esta contribuição, comparada com a dos 39 segmentos da Indústria de Transformação é somente inferior à da indústria petrolífera, da construção civil sendo quatro vezes maior que o segmento de automóveis e 12 vezes maior que o segmento de eletrodomésticos.

Do ponto de vista socioeconômico, as OSCs empregam 1,7 milhões de trabalhadores. Segundo dados PIA-Empresas/IBGE-2005, estas OSCs empregam mais trabalhadores que o setor de fabricação de veículos automotores, do que o setor de metalurgia básica, do que a totalidade da indústria extrativa (inclusive petróleo) e da indústria têxtil. Destaca-se ainda, segundo pesquisas, que cerca de 20% da população brasileira destina recursos financeiros próprios e/ou se dedicam, voluntariamente, a algum tipo de atividade nas OSCs.

No âmbito das políticas públicas, muitos dos programas do atual governo nas áreas de saúde, meio ambiente, desenvolvimento rural, educação, direitos humanos, dentre outros, são resultado direto de experiências das OSCs ao longo de mais de três décadas. Exemplos emblemáticos como o trabalho da Pastoral da Criança, Grupos de Direitos Humanos, questões de Gênero, Etnia e Gerações, na luta pela Educação de qualidade e o Programa de Construção de Cisternas no semi-árido, dentre outras tantos.

O dinamismo e a capacidade de mobilização desse segmento contribuíram, definitivamente, na reconstrução do estado democrático do País e, ultimamente, associado a uma maior sensibilidade do Estado brasileiro, colaborando para que, nos últimos anos, se aumentasse, significativamente, a participação democrática das OSCs nos vários espaços públicos, bem como, sua incidência na política, na gestão e na operacionalização, com transparência, da agenda pública.

Adicionalmente, nos últimos anos, foram estabelecidos laços de solidariedade e parcerias com entidades internacionais que muito contribuíram para o avanço da construção de uma cidadania planetária (a exemplo do Fórum Social Mundial). Hoje, o dinamismo e o protagonismo das OSCs brasileiras é amplamente reconhecido, inclusive internacionalmente, como uma das sociedades civis mais ativas no ambiente mundial.

Na atualidade, esse dinamismo e essa incidência política se vêem prejudicados e ameaçados por uma série de fatos e situações, que não correspondem às expectativas da própria sociedade e da comunidade internacional quanto aos avanços sociais e políticos, conquistados no processo democrático brasileiro.

Um primeiro elemento é que muitas das posições assumidas pelas OSCs e Movimentos Sociais, ao serem divergentes das opiniões dos grupos tradicionalmente dominantes no país, deflagram reações conservadoras e antidemocráticas que bloqueiam a participação cidadã e a capacidade de incidência das OSCs. A mais comum dessa reação é a tentativa de desqualificação e até mesmo a criminalização das OSCs.

Por outro lado, os poucos casos de uso indevido de entidades para desenvolvimento de atividades ilícitas, por parte de representantes e membros dos poderes públicos constituídos, associados a um processo de desinformação inflacionado pela mídia, faz parecer para a sociedade que o ilícito e a corrupção são intrínsecos ao desenvolvimento da atividade cidadã. Esse tipo de situação gera também um descrédito de todos os agentes na esfera pública – estatal ou da sociedade civil organizada.

A resultante final de todo esse processo é uma perda de credibilidade das OSCs em sua relação com a sociedade em geral, que acaba minando valores republicanos, de solidariedade e de fraternidade, dilapidando a capacidade de atuação das OSCs.

O Estado brasileiro é historicamente clientelista e centralizador na sua relação com a sociedade civil. Além disto, as várias instâncias públicas desenvolvem diferentes tipos de controle que não se comunicam. O processo de descrédito e criminalização de hoje acaba por agravar esta situação, induzindo operadores e gestores públicos e privados a requerer uma infinidade de condicionalidades para o estabelecimento de qualquer tipo de cooperação e parceria, assumindo, como princípio, que todas OSCs são “desqualificadas e/ou suspeitas”.

Esse quadro representa uma ameaça real para a construção e a consolidação de um Estado democrático, ao desconsiderar todos os elementos de qualificação, das contribuições e dos resultados obtidos a partir da luta dessas OSCs ao longo das últimas décadas.

O acúmulo dessas ameaças e condicionalidades, bem como suas contradições geram uma insegurança jurídica no relacionamento das OSCs com o Estado e com as próprias instituições privadas, que terminam por adotar os procedimentos de instituições públicas na relação privada.

Tendo em vista essa contextualização, as instituições que subscrevem esse documento reafirmam seus compromissos com:

As causas de interesse público, a consolidação da democracia e com a ampliação da participação democrática por meio da participação cidadã.

Aprimoramento, melhoria e intensificação da qualidade da participação das OSCs nos processos de mobilização da cidadania para causas de interesse público.

Adoção de práticas que permitam a melhor gestão dos recursos manejados pelas OSCs, aperfeiçoando nossas práticas de auto-regulação, transparência e prestação de contas.

Reconhece-se o papel do Estado e dos órgãos estatais para a consolidação do ambiente democrático e de cidadania com inter-relações produtivas entre governos e OSCs. No entanto, o fortalecimento das OSCs não diminui a responsabilidade e a autoridade das agências do Estado na consecução de políticas públicas que garantam os direitos sociais, políticos, econômicos, culturais e ambientais da cidadania. Ao contrário, reconhece-se que um Estado democrático é forte e dinâmico na medida em que as organizações da sociedade também o são.

Fundamenta-se também na premissa de que um ambiente regulatório estável e sadio favorece a emergência e potencialização de energias sociais que hoje se encontram bloqueadas pelo contexto hostil que se vivencia.

Na certeza de que essa é uma tarefa urgente e necessária para que as OSCs e o governo brasileiro se coloquem à altura das esperanças da nação quanto ao desenvolvimento político e social do país e quanto ao papel que o país tem a desempenhar no cenário internacional.

Assinam esta Plataforma:

Fóruns, Articulações, Redes e Grupos

Articulação Mineira de Agroecologia – AMA

Fórum Nacional de Tecnologia Social

Articulação Nacional de Agroecologia – ANA

Grupo de Institutos, Fundações e Empresas – GIFE

Articulação no Semi-Árido Brasileiro – ASA

Movimento dos Pequenos Agricultores – MPA

Associação Brasileira de Organizações Não Governamentais – ABONG

Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST

Fórum Brasileiro de Economia Solidária

Movimento LBT Negritude

FBOMS – GT de Formação Política e Educação Ambiental Popular

Rede Cerrado

Fórum Carajás

Rede de ONGs da Mata Atlântica – RMA

Fórum Nacional de Defesa da Criança e do Adolescente – FNDCA

Rota da Paz

Instituições

Ação Comunitária do Brasil / RJ

Ação Educativa

Assessoria e Serviços a Projetos em Agricultura Alternativa – ASPTA

Associação Barraca da Amizade

Associação Cultura Arte

Associação Cultural Dynamite

Associação de Estudos, Pesquisa, Orientação e Assistência Rural – ASSESOAR

Associação de Moradores da Vila Teresina

Associação de Moradores e Amigos do Farol

Associação do Verde e Proteção do Meio Ambiente – AVEPEMA

Associação em Áreas de Assentamento no Estado do Maranhão – ASSEMA

Associação Maranhense para a Conservação da Natureza – AMAVIDA

Associação Paraense de Apoio às Comunidades Carentes – APACC

Associação para o Desenvolvimento Integrado e Sustentável – ADEIS

Associação Pensamento Crítico

Associação Terceira Via

Auçuba Comunicação e Educação

CARE – Brasil

Cáritas Brasileira

Catavento Comunicação e Educação

Centro de Agricultura Alternativa do Norte de Minas

Centro de Assessoria Multiprofissional

Centro de Criação de Imagem Popular

Centro de Defesa da Criança e do Adolescente – CEDECA – Ceará

Centro de Direitos Humanos de Palmas – CDHP

Centro de Educação e Assessoramento Popular – CEAP

Centro de Educação e Cultura Popular – CECUP

Centro de Educação e Recuperação Nutricional – CREN

Centro de Pesquisa e Assessoria – Esplar

Centro de Referência Integral de Adolescente

Centro de Tecnologias Alternativas da Zona da Mata – CTA-ZM

Centro Sabiá – Centro de Desenvolvimento Agroecológico

Cipó – Comunicação Interativa

Comissão Pró-Índio de São Paulo

Comunicação e Cultura

Cooperativa Agroextrativista Grande Sertão

Coordenadoria Ecumênica de Serviço – CESE

De Peito Aberto

Federação de Órgãos para Assistência Sócia e Educacional – FASE

Fundação AVINA

Fundação Cultural e Educacional Ciências Médicas – FUNCEM

Fundação do Câncer

Fundação Grupo Esquel do Brasil – FGEB

Fundação SOS Mata Atlântica

Gabinete de Assessoria Jurídica às Organizações Populares – CAJOP

Gambá – Grupo Ambientalista da Bahia

Geledés – Instituto da Mulher Negra

Grupo de Trabalho Missionário Evangélico – GTME

Hospital do Câncer de Uberlândia – Grupo Luta pela Vida

Instituto Águas do Prata

Instituto Bem Estar Brasil – IBEBrasil

Instituto da Memória do Povo Cearense – IMOPEC

Instituto de Cidadania Empresarial – ICE-MA

Instituto de Mulheres Negras do Amapá – IMENA

Instituto EQUIT

Instituto Ideias

Instituto Pro3

Instituto Soma Brasil

Instituto Universidade Popular – UNIPOP

Iser Assessoria

Kinder Not Hilfe – KNH Brasil

Loucas de Pedra Lilás

Movimento de Organização Comunitária

Nova Pesquisa e Assessoria em Educação

Obra Kolping do Brasil

Pastoral da Criança

Pense Brasil

Rede de Intercâmbio de Tecnologias Alternativas – REDE-MG

Rede Mulher & Democracia

Reintegrar

Serviço de Educação Popular

Sociedade Comunitária, Ecológica, Cultural, Escola de Samba Fala Negão / Fala Mulher

Sociedade do Sol

Sociedade Mundial de Proteção Animal

The Resource Alliance

Vida Brasil

setembro de 2010.