Fonte: Rogéria Araújo *
Com caravanas de todos os estados brasileiros, a I Feira Mundial de Economia Solidária mostra a diversidade e o empoderamento daqueles que acreditam e levam adiante a prática solidária no comércio. Ainda assim, muitas pessoas que trabalham nesse modelo de economia não se reconhecem como protagonistas de um cenário inovador.
Mas muito tem sido feito. É o que afirma Rosana Pontes, da Coordenaçao Executiva do Forum Brasileiro de Economia Solidária (FBES), parte organizadora do I Forum Social e I Feira Mundial de Economia Solidária, que acontece até o dia 24, em Santa Maria, no estado brasileiro do Rio Grande do Sul.
No geral, Rosana acredita que a avaliação da atuação das redes e das articulações é bem positiva e que os momentos difíceis apresentam respostas grandiosas como a realização de eventos como estes. Ela conversou sobre o assunto com a ADITAL. Confira.
Adital – Como você vê a assimilação do conceito da economia solidária por parte da sociedade? Como esse conceito tem chegado ao consumidor?
Rosana Pontes – Ainda estamos num momento muito de construção, mas de construção até do reconhecimento, apesar de o termo “economia solidária” estar sendo expandindo, se interiorizando no Brasil. Ao mesmo tempo quando chegamos no interior, vemos que muita gente já trabalha com os princípios, trabalham coletivamente, a partir de trocas, a partir do trabalhar junto, do se organizar. Isso é muito forte. Então, acho que estamos também nessa fase de se auto-reconhecer. De as pessoas pensarem: “Ah, então essa forma que a gente trabalha é economia solidária?”.
Por outro lado, nós temos atuado, levando conhecimento, mostrando as conquistas, organização, procurando mostrar que existem articulações, que existe o Foprum Brasileiro, que existem redes internacionais que estão participando e lutando por um movimento que eles já fazem.
Adital – Você citou as redes, o Forum, as articulações. Pode fazer uma avaliação desses trabalhos que estão sendo feitos?
Rosana Pontes – A avaliação é positiva. Nós temos altos e baixos. Temos momentos de fragilidade. Mas quando tem esse momento de fragilidade, tem o momento de superação. Esse primeiro Forum Social de Economia Solidária é o resultado disso. Tradicionalmente no mês de julho se realiza a Feira de Santa Maria e, no ano passado, a justiça proibiu [por conta da incidência da Gripe A]. Então naquele momento de dor foi onde fizemos a nossa resposta: vamos fazer o Forum Social da Economia Solidária em janeiro. E estamos aqui.
Estamos com todos os estados representados, em grandes ou pequenas caravanas. Temos 28 países representados de vários continentes. E isso é o resultado da organização que a gente consegue mostrar. Estamos com o Forum Social Santa Maria Expandido, onde quem não pôde vir pode estar realizando, em qualquer parte do mundo, um evento de Economia Solidária.
Então a avaliação não pode ser outra a não se de eterna superação.
Adital – Um dos temas abordados no Forum, toca na questão da sustentabilidade dos empreendimentos, demanda antiga dos (das) empreendedores (as). Como está o processo?
Rosana Pontes – Nós temos trabalhado em vários campos neste sentido. Tem o projeto de Feiras que foi redimensionando, pois estamos trabalhando em feira micro-regionais dentro dos estados. A ideia é não colocar essa dependência da feira estadual e realizar os eventos nas regiões.
Estamos com leis tramitando que apoiam o cooperativismo, que vai ser muito útil para todos. No momento em que você tem uma lei que lhe propicia a se organizar melhor, você pode comercializar melhor. Pra gente comercializar a gente precisa estar legalizado, precisa estar com notas.
Precisamos superar essa fase de só estar nas feiras para que se possa comercializar a ponto de dar sustentabilidade, principalmente na área da agricultura familiar, aonde tivemos muitos avanços, com a lei da merenda, com a compra direta. Estamos sempre em várias frentes.
Em nível internacional, aqui no Forum Social, a gente já começou a integrar os países, a dialogar com os governos dos países para que nas cidades de fronteiras a gente consiga ter espaço de comercialização, onde o trâmite do produto seja viável, que proteja a economia solidária. Estamos começando, mas vamos fazer. Nós estamos tentando para em 2010 já existam alguns espaços de comercialização entre as fronteiras.
Ao mesmo tempo, enquanto Forum Brasileiro, a gente tem o desafio de organizar os empreendimentos e enviar os produtos para estes espaços de fronteiras. Como disse, são sempre muitas superações. Mas vamos conseguindo uma a uma.
* Jornalista da Adital