Fonte: www.jornaldomauss.org
Carta aberta à todos os economistas insatisfeitos com a orientação acadêmica e intelectual de sua disciplina
Nós, economistas universitários e profissionais, somos cada vez mais a lamentar a orientação acadêmica e intelectual que vem tomando nossa disciplina já há alguns anos. A constatação é preocupante e significa, à curto prazo, o fim do pluralismo no pensamento econômico e, ao mesmo tempo, a ausência de qualquer debate econômico.
A constatação é também devastadora: a calcificação dos cânones da cientificidade em torno de normas externas ao propriamente econômico (promoção de publicações em revistas em detrimento de livros; desqualificação dos trabalhos em língua francesa; confrontos empíricos encobertos por testes econométricos); abandono de todo debate teórico ou metodológico em um campo que poderia se orgulhar de ter conhecido grandes controvérsias políticas; risco de anexação das outras ciências sociais por uma ciência econômica definida como um conjunto de técnicas “aprovadas” (teoria dos jogos, econometria) em lugar de um diálogo verdadeiro entre as disciplinas; incapacidade da economia dominante de propor uma leitura do mundo passível de esclarecer e alimentar o debate democrático. Esta redução da pesquisa à dimensão puramente técnica, em detrimento de toda reflexão crítica, se acompanha de um empobrecimento dos ensinamentos “oficiais”, que nos fazem esconder atrás de outras disciplinas, para continuar, apesar de tudo, à atrair os estudantes para os anfiteatros de nossas universidades…
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Esta orientação é inaceitável, mas é preciso ter claro que ela não é irreversível. No plano acadêmico, ela é conduzida por uma fração muito estruturada do campo disciplinar que enfrenta uma multitude heterogênea e pouco organizada, a qual, essencialmente, passa por esta situação sobrevivendo como pode, às vezes fugindo da disciplina e suas redes oficiais. Diante da crise econômica e ambiental maior que afeta atualmente nossas sociedades, a fraqueza visível dos economistas próximos dos ministérios e das mídias deveria ser o sinal para que se apresentassem outros discursos econômicos. Porém, as inércias são tais que nada parece mudar verdadeiramente. Enquanto esta situação durar, o processo de desculturação da nossa disciplina continuará, com as conseqüências societais e políticas que já são sabidas. Pensamos que ainda é tempo de se mostrar, mas sob uma condição necessária (mas que pode não ser suficiente): é preciso se organizar para se constituir como ator coletivo e tentar retomar o controle do nosso futuro. Este ano, diversos economistas de diferentes sensibilidades teóricas e metodológicas, mas profundamente insatisfeitos com a situação atual, decidiram criar uma associação profissional pluralista e aberta, a associação francesa de economia política.
Nossa associação tem como objetivo a construção, a consolidação e a promoção de uma análise econômica pluralista quanto à suas problemáticas, seus referenciais teóricos e suas metodologias no campo acadêmico, isto é, uma análise econômica que não vise à hegemonia, mas que rapidamente se mostre aberta à colaboração interdisciplinar com as outras ciências do homem e da sociedade. Nós pretendemos assim renovar o espírito do projeto inaugural da “Economia política”, entre filosofia política e ciências sociais. Este projeto intelectual está hoje amplamente desviado pelos partidários tecnocráticos de uma “Ciência econômica” que, se pretendendo igual às Ciências da Natureza, progressivamente se tornou inapta à satisfazer a exigência de manter um discurso pertinente – para o conhecimento e para a ação – sobre as economias capitalistas tais como elas funcionam concretamente. Esta associação busca incentivar a colaboração freqüente e de qualidade de todas as correntes de análises críticas que partilham desta exigência, como por exemplo a teoria pós-keynesiana, a teoria marxista, a sócio-econômica, a economia das convenções, a economia social e solidária, a teoria da regulação, as teorias institucionalistas, a economia austríaca, a crítica da economia política – esta lista não sendo exaustiva. Mas também, e talvez, sobretudo, ela tenha a vocação de oferecer uma ancoragem coletiva à todos os economistas ecléticos que combinam diferentes abordagens conceituais em função dos objetos que estudam e que, portanto, não se reconhecem na formatação disciplinar do monismo teórico dominante. Mais amplamente, esta associação busca defender e desenvolver, nas instituições públicas de ensino superior e de pesquisa e através de todos os meios apropriados, os valores intelectuais do pluralismo e da crítica que são o coração da Universidade e de sua missão, que é contribuir para o debate político dentro da Cidade.
Esta associação está aberta à todos aqueles que se sentem insatisfeitos com a situação atual e desejam agir coletivamente para mudar este panorama. Para se desenvolver, ela precisa de cada um de vocês. Nós pensamos que somos numerosos, muito mais numerosos que pensamos, que somos impotentes porque estamos dispersos e sem uma estratégia coletiva. Organizados, nós constituiremos uma força a qual será necessário incluir na paisagem acadêmica e intelectual. Nós os convidamos, então, à associar-se o mais rápido.
Porque é preciso bem começar, esta associação já funciona com um escritório e um CA. Porém, este funcionamento não está inscrito numa placa de bronze e cabe à nós desenvolvê-lo. Quinta-feira, 17 de dezembro, às 18h30, acontecerá a primeira assembléia geral da Associação Francesa de Economia Política, na sala do sexto andar da Maison des Sciences Economiques de Paris. Os promotores do projeto apresentarão seu trabalho, os eixos de trabalho e acolherão todos os novos membros, para discutir conjuntamente os projetos destinados à animar esta renovação da profissão.
Esperando que sejamos numerosos e determinados, Cordialmente
Os iniciadores do projeto: Bernard Chavance, Olivier Favereau, Alain Caillé, Florence Jany-Catrice, Agnès Labrousse, Thomas Lamarche, Dany Lang, Edwin Le Héron, Sabine Montagne, André Orléan, Claire Pignol, Nicolas Postel, Gilles Raveaud, Richard Sobel, Bruno Tinel, Fabrice Tricou
Escritório e CA: Presidente (André Orléan), Vice-presidentes (Agnès Labrousse, Edwin Le Héron, Richard Sobel), secretário (Bruno Tinel) e tesoureiro (Claire Pignol)
Contato : Bruno Tinel (btinel@univ-paris1.fr) ou Richard Sobel (richard.sobel@univ-lille1.fr)
Associe-se agora, acessando o site (em construção): http://www.assoeconomiepolitique.org/