Fonte: Por Tatiana Félix *
Com o intuito de contrapor o sistema capitalista a Economia Solidária defende, basicamente, a produção baseada em preservar o meio ambiente, a valorização do trabalho humano e a comercialização dos produtos praticando um preço justo, ignorando a lucratividade.
Embora ainda crescente e necessitando de apoio dos órgãos governamentais e financeiros, a prática da economia solidária tem ganhado destaque em alguns estados brasileiros como é o caso do Ceará situado na região nordeste do país.
De acordo com Cristina Gusmão, membro da coordenação da Rede de Socioeconomia Solidária no Ceará, os últimos dados, coletados por um mapeamento, revelam que existem atualmente cerca de três mil empreendimentos que trabalham segundo os princípios da economia solidária no estado. Segundo ela, esse número leva o Ceará para o segundo lugar no ranking brasileiro, perdendo apenas para o Rio Grande do Sul. Os maiores avanços, segundo ela, estão na criação de políticas públicas de apoio e fomento, desde produção e comercialização, e maior divulgação das atividades. Isso significa fortalecimento do setor. “Temos ampla diversidade de empreendimentos que abrangem associações e cooperativas de economia solidária. Também organizamos uma ampla rede de formação em economia solidária”, declara.
Traçar o marco legal da economia solidária no estado é um dos desafios enfrentados. Em Fortaleza, capital cearense, essa meta está mais próxima de ser alcançada já que tramita na Câmara Municipal um projeto de lei de autoria do vereador Ronivaldo Maia (PT). Cristina esclarece que o marco legal permite aos empreendedores exigir e ter apoio do governo.
Em relação ao acesso a linhas de crédito e financiamento, Cristina ressalta que a Rede entende o crédito financeiro como um agente pedagógico e não o valor do dinheiro em si. “Não vislumbramos o lucro e sim uma forma descentralizada e autogestionária”.
A falta de políticas públicas, de reconhecimento das atividades e a pouca estrutura que os empreendimentos recebem sinalizam os pontos que precisam ainda ser melhorados. “Falta investimento”, afirma Cristina. Ela ainda critica que o pouco apoio recebido não permite a autonomia do sujeito. “É necessário o reconhecimento do empreendedor solidário como cidadão que também merece atenção do estado”, conclui.
Mas a organização das mulheres na realização dos trabalhos merece destaque. Segundo Cristina, cerca de 98% dos grupos solidários na capital cearense são compostos por mulheres.
A economia solidária não é uma prática de sobrevivência. Segundo a coordenadora da Rede este novo modelo econômico é um projeto de desenvolvimento alternativo ao modelo vigente, que apresenta proposta autogestionária.
Para ampliar a prática deste modelo alternativo de produção e comercialização é necessário dar maior visibilidade às experiências em atuação, além de provocar na sociedade uma reflexão sobre o que ela está consumindo e qual a origem do produto, a fim de fortalecer o conceito de desenvolvimento sustentável.
* Jornalista da Adital