Fonte: Instituto Humanitas Unisinos
Os e as participantes do Seminário Inter-religioso de Diversidade Sexual do Cone Sul pelo direito à diversidade sexual e a liberdade religiosa, que aconteceu em Buenos Aires, escreveram uma Carta Aberta às sociedades, aos Estados, aos e às membros e autoridades das Igrejas cristãs, das Sinagogas e das religiões de matrizes africanas e indígenas. Segue a íntegra da carta aberta. A tradução é do Cepat.
Buenos Aires, 11, 12 e 13 de julho de 2008.
Os e as abaixo-assinados/as, pertencentes a diferentes religiões e formas de viver a espiritualidade e a sexualidade: lésbicas, gays, travestis, transexuais, bissexuais e heterossexuais, mas conscientes de que as etiquetas não conseguem resumir-nos nem definir-nos como indivíduos com personalidade única, singular e irrepetível, reunidos e reunidas no “Seminário Inter-religioso de Diversidade Sexual do Cone Sul” organizado por Católicas pelo Direito de Decidir:
Celebramos:
Nossos corpos e nossas vidas tentando somar esforços a nossas lutas pelos direitos de todas as pessoas e em especial pela não discriminação.
Conscientes de que muitas vezes as teologias, as igrejas e as religiões, em seus discursos e práticas, foram fonte de culpabilidade para o corpo e o espírito, nós queremos reconhecer e vivenciar a alegria e o prazer do corpo como dom de Deus.
Conscientes de que outras teologias e religiões são possíveis, como experimentamos através da convivência de reflexões bíblicas e teológicas, produzidas a partir das diferentes experiências organizadas que articulam a diversidade sexual e a religião; e também de nossas práticas políticas, que se unem a outras práticas libertadoras e promotoras de vida em nossa região.
Nos aliamos:
Às pessoas, grupos e movimentos que lutam contra a pobreza e a desigualdade – que se aprofunda em nossos países e no mundo inteiro – em razão de sistemas políticos e econômicos que valorizam o capital, a propriedade privada e o lucro sobre a dignidade humana, questões que também afetam nossa comunidade, que em muitos aspectos continua sendo excluída e marginalizada política e economicamente por sua construção de identidade de gênero e orientação sexual.
Às pessoas, grupos e movimentos que lutam contra a exploração e a destruição da natureza, que é uma conseqüência desse mesmo sistema político e econômico, afirmando o valor intrínseco da criação e de seu caráter sagrado.
Às pessoas, grupos e movimentos que lutam contra toda forma de fundamentalismo e unilateralismo, afirmando a pluralidade e a necessidade de repensar e reinventar os conhecimentos e os processos de sua construção.
Por isso nos pronunciamos:
– Pela liberdade teológica e religiosa, reconhecendo que a teologia e a religião não são “UNAS”, e revalorizar as teologias que emergem dos diferentes lugares de exclusão.
– Por teologias e religiões libertadoras e pela libertação de toda teologia e de toda religião – que com violência simbólica e/ou emocional exclui ou provoca a exclusão das pessoas LGBTTTs, em particular e/ou outros grupos sociais, reconhecendo a contribuição e questionando os limites das teologias da libertação e das teologias feministas a nossas próprias construções teológicas a partir da diversidade sexual.
– Pelas transformações necessárias para que as pessoas LGBTTTs não tenham que viver sua fé no silêncio ou em solidão e haja lugar para a vivência comunitária.
– Pelo diálogo e a articulação com os movimentos sociais organizados para que possamos encontrar juntos e juntas, estratégias para fazer frente aos fundamentalismos religiosos, sem negar a espiritualidade e a religiosidade das pessoas, especialmente os pobres e os marginalizados de nossa sociedade.
– Pela abertura das diferentes confissões, em especial as que têm uma tradição histórica em nossa região e um poder sóciopolítico preponderante, para que proporcionem vivências de um Deus da Vida, que nos convida a viver e vivenciar o Amor.