Fonte: Cáritas Brasileira (www.caritasbrasileira.org)

Em uma vila empobrecida de Porto Alegre (RS), no bairro de Sarandi, 35 mulheres se reuniram para tentar uma alternativa de trabalho digno. Muitas tinham mais de 40 anos e encontravam dificuldade em conseguir um emprego no mercado formal. Outras, com filhos pequenos e sem creches na região, também sofriam do mesmo problema. Há 12 anos, elas resolveram se organizar e criaram a Cooperativa Univens, que produz camisetas e uniformes, além de serigrafia em tecido.

No começo não tinham um espaço fixo para trabalhar e faziam suas costuras no salão da capela. A partir de um projeto de incubadora de pequenos empreendimentos da prefeitura de Porto Alegre, se deslocaram para um prédio municipal no próprio bairro, onde trabalharam por quatro anos. “Com isso, conseguimos economizar e comprar um terreno para a sede da cooperativa”, explica a presidente da cooperativa, Nelsa Néspolo. Com o apoio de algumas entidades, obtiveram o recurso para a compra do espaço, financiado por cinco anos.

Nelsa e mais quatro mulheres permanecem na Univens desde o início da cooperativa. Atualmente, contam com 25 mulheres e 1 homem. Produzem uma média de 100 camisetas por dia, e as trabalhadoras e o trabalhador recebem por peça, já que algumas costureiras trabalham em suas casas. A renda mensal varia entre R$ 500 e R$ 1.000 para cada. As camisetas custam R$ 20 e a maior parte da modelagem é feita por elas. A Univens trabalha por encomenda, além da participação em feiras. “O maior desafio é o mercado, é escoar a produção”, avalia Nelsa.

Os critérios para fazer parte da cooperativa são morar no bairro e ter conhecimento de costura. Para Nelsa, o fato de morarem próximas umas das outras “muda a nossa postura cotidiana, porque estamos muito juntas, favorece um cuidado maior na relação”.

O principal espaço de formação, decisão e avaliação é a Assembléia Geral, na qual se reúnem uma vez por mês, durante o expediente. “Todo mundo participa, porque é o mínimo que cada um pode dar de si para o coletivo, é onde decidimos tudo”, ressalta a presidente da Univens.

Não estavam sozinhas nessa luta. Apesar de sempre manterem sua autonomia, contaram com o apoio do Centro de Assessoria a Movimentos Populares (Camp), Fundação Ioesp, Cáritas Regional RS, Comitê de Luta contra a fome (Coep), Unisol Brasil e de uma ONG espanhola.

Rede Justa Trama

As cooperadas da Univens participam ativamente dos Fóruns de Economia Solidária. Durante essas reuniões, conheceram outros grupos, articularam parcerias e hoje fazem parte da Rede Justa Trama – confecção de roupas em algodão ecológico. Todo o processo de produção é cooperado, envolvendo 760 trabalhadores/as em diversos Estados brasileiros.

O algodão é plantado no Ceará, sem nenhum agrotóxico, envolvendo 300 agricultores de nove municípios. O fio é trabalhado na cidade de São Paulo e a malha é produzida em Santo André (SP). As costureiras da Univens fazem as camisetas em série. Em Florianópolis (SC), colaboram com peças artesanais. Os botões e detalhes das roupas são sementes trabalhadas por uma cooperativa de Porto Velho (RO).

Nelsa conta que muitas pessoas questionam a viabilidade da Rede, devido a sua abrangência. “Mesmo sendo longe, mostramos que é possível, além do que todos ganham mais do que no mercado. E um dia teremos uma cadeia produtiva completa em cada região”. Hoje, 10% da produção da Univens correspondem à demanda da Justa Trama. A venda se dá via pedidos por telefone ou pela internet, além de pontos fixos de comercialização.

* Texto de Renina Valejo – Assesoria nacional de comunicação da Cáritas Brasileira