Fonte: Boletim do Brasil Local

Crédito sem burocracia para pequenos produtores e comerciantes. É assim que vai funcionar o banco comunitário RioSol inaugurado no dia 04 de julho na capital cearense. Com sede no bairro Granja Portugal, o RioSol abrangerá também a população do Bom jardim, Conjunto Ceará, Genibaú e Granja Lisboa. “Esta será a primeira experiência com característica territorial. Cerca de 200 mil pessoas vivem aqui”, destaca Cristiano Alves, gerente da instituição financeira e morador da região.

A carta de crédito inicial do RioSol será de R$ 35 mil, mais o lastro em moeda social, denominada Rios. Os juros para financiamentos em Real vão variar de 1% a 3,5% ao mês. Para empréstimos em Rios, não será cobrada taxa. Os empreendimentos da economia solidária terão atendimento prioritário, sendo que cada grupo poderá tomar empréstimo de no máximo R$ 10 mil.

A realização de outros procedimentos bancários, como pagamentos de boletos de água e energia elétrica, será garantida pela implantação de um caixa do Banco Popular do Brasil, subsidiário do Banco do Brasil. “Às vezes as pessoas tem que ir longe para pagar as contas. Agora vai ficar mais perto”, argumenta Alves.

Segundo ele, o objetivo é levar os benefícios do banco ao maior número de pessoas possível e incentivar as trocas e cooperação entre os empreendedores. “A medida que formos fazendo a ficha dos correntistas vamos realizar também um mapeamento sobre as atividades produtivas da região. Conhecer melhor nossa realidade”, afirma o jovem gerente, de 24 anos. A idéia é utilizar esse levantamento para organizar redes de cooperação entre os grupos produtivos.

O valor da moeda Rios corresponde ao Real. “A diferença é que é um dinheiro que só vai circular na região, estimulando compras aqui dentro e fortalecendo a economia local”, explica Sílvia de Souza, agente do Brasil Local (Projeto da Secretaria Nacional de Economia Solidária).

Na avaliação dela, os moradores têm visto a novidade com bons olhos. “Estão todos curiosos e receptivos”. De largada, 20 comerciantes aderiram à idéia. “Assim que o banco abrir as portas já vamos poder comprar gás de cozinha, cortar o cabelo ou fazer compras em mercadinhos dos bairros com a moeda alternativa”, diz Souza, satisfeita.

Fio de bigode Para ser correntista do RioSol, não será necessário enfrentar a lista de documentos exigida pelos bancos tradicionais. Vale mais ter o nome limpo na praça, literalmente. “Não vamos consultar a Serasa ou o SPC. Vamos conversar com o candidato a tomador de empréstimo e também com os seus vizinhos para saber se ele é bom pagador. Vamos confiar nas pessoas”, ressalta Alves.

Para o gerente, o fato de o município contar com a experiência bem-sucedida do banco Palmas, em funcionamento há mais de 10 anos no Conjunto Palmeira, facilita a disposição das pessoas em colaborar com a proposta. “A maioria aqui já ouviu falar do Palmas e sabe que pra dar certo depende de cada um”, acredita.

De acordo com Joaquim Melo, coordenador da Rede Brasileira de Bancos Comunitários (entidade que contabiliza 32 afiliados na Bahia, Ceará, Espírito Santo, Maranhão, Mato Grosso do Sul e Piauí), a mobilização tem se mostrado o grande trunfo dos bancos comunitários. “O controle social é uma das premissas deste tipo de entidade financeira. Nossa experiência mostra que se a comunidade não estiver unida, o banco não vai para frente”, afirma.

Sustentabilidade

Os recursos do RioSol formam um Fundo Solidário. O montante inicial (R$ 35 mil) foi destinado pela prefeitura da cidade como parte do Programa Trabalho Comunitário Solidário e será gerido por um conselho formado por 12 entidades.

Um dos critérios para ser correntista do RioSol é tornar-se sócio do Fundo, por meio da doação voluntária de uma quantia em dinheiro. “No momento da adesão a pessoa ganha uma carteirinha de consumidor solidário e já pode acessar os serviços do banco”, destaca Alves. De acordo com ele, essa é uma estratégia para manter o Fundo sempre em dia, sem cair no vermelho.