Fonte: http://agenciacartamaior.uol.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=13658, por André Barrocal
Governo aposta na atividade econômica de espírito socialista como alternativa financeira para quem vive de transferência de renda. Missão de 350 pessoas pretende levar a economia solidária a comunidades atendidas pelo Bolsa Família.
O governo prepara-se para executar uma operação que vai, ao mesmo tempo, espraiar a cultura economia solidária pelo país e oferecer esta atividade econômica de espírito socialista como caminho de independência financeira para pessoas que se sustentam com o Bolsa Família. Um exército de 350 pessoas será encarregado de levar a bandeira da economia solidária pelo Brasil e procurar oportunidades de desenvolver a atividade, e o foco da missão serão famílias e municípios atendidos pelo principal programa federal de distribuição de renda.
O trabalho começa nesta quarta-feira (7), com uma fase inicial de treinamento do batalhão que vai até o próximo domingo (11). Depois, o grupo vai produzir relatórios em que aponta possibilidades de desenvolver economia solidária nas pobres regiões favorecidas pelo Bolsa Família. Os diagnósticos vão orientar a criação de pequenas unidades produtivas locais seguindo a vocação regional. Por exemplo: unir moradores de uma área rural em torno da produção de alimentos. “O emprego capitalista não chega a estas comunidades, e o material humano lá não é competitivo. O auto-emprego coletivo é uma saída”, afirma o secretário Nacional de Economia Solidária, Paul Singer. A economia solidária é um tipo de atividade econômica orientada pelo bem-estar dos sócios dos empreendimentos, não pelo lucro. Ninguém é patrão de ninguém – todos os envolvidos são iguais.
A iniciativa será financiada pela Secretaria Nacional de Economia Solidária (Senaes), repartição do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), junto com o Ministério do Desenvolvimento Social (MDS), que distribui o Bolsa Família. A aliança começou a ser articulada no mandato passado, e agora está pronta para sair do papel. É uma das apostas do governo para servir de “porta de saída” de pessoas que recebem Bolsa Família, embora o MDS rejeite a expressão “porta de saída”, pelo tom pejorativo, que remete a “expulsão”. “O programa vai promover a inclusão econômica de uma população alijada de uma série de processos, a partir do desenvolvimento da economia local”, diz a diretora do Departamento de Proteção Social Básica do MDS, Aidê Cançado Almeida.
Com a parceria, a economia solidária pode fazer a cabeça de 11 milhões de famílias, número de beneficiados pela transferência de renda. É uma “clientela” numerosa que pode multiplicar a parcela de 1,2 milhão de empreeendimentos solidários. E, segundo Paul Singer, é preciso levar em conta ainda as cercanias das populações favorecidas com o Bolsa Família, o que eleva ainda mais o público potencial da atividade de “espírito socialista”.
A parceria nasceu, aliás, de um programa que a Senaes já tem, chamado Agentes do Desenvolvimento da Economia Solidária. Hoje, 252 agentes atuam em regiões onde já existem empreendimentos solidários, com a missão de ajudar a atividade. Eles próprios são sócios de empreendimentos e recebem R$ 400 mensais extras do governo. Orientam 35 mil famílias, em 200 comunidades diferentes. O trabalho concentra-se em áreas específicas, como quilombolas na Amazônia e apicultura no Nordeste, o que não vai acontecer com o batalhão extra de 350 pessoas.
A ampliação do programa contará ainda com o apoio do Ministério do Meio Ambiente (MMA), porque também levará em conta a Agenda 21, uma espécie de carta de princípios sobre desenvolvimento sustentável local que deve nortear a formulação de políticas públicas.