Fonte: Shirlei A. A. Silva
Realmente esta viagem foi um mergulho profundo nos princípios da economia social e solidária do Quebec. Acredito que foram os 10 dias mais intensos dentro desta temática e fora do Brasil que já participei.
Inicialmente participamos da reunião da Coordenação da RIPESS, com um grande desafio que é fazer uma articulação internacional dentro da temática, de economia social e solidária. Tivemos a presença da América Latina (a maior riqueza, Santa Maria foi um marco com o encontro de vários países e articulações com feiras em diferentes países, mobilizações e intercâmbio, da América do Canadá (que relatou as grandes experiências do Quebec, sobretudo as 12 ferramentas que eles têm de finanças solidárias, imaginem que eles tem uma linha de financiamento para a economia social que tem a carência de 15 anos com juros 0, e do restante do Canadá (que tem mais uma articulação entre intelectuais e alguma coisa dos Estados Unidos), da Austrália muito fraco, somente atividades de responsabilidade social, da Africa boa articulação entre os governos e necessidade de investir no fortalecimento da sociedade civil e da Europa, com muita coisa acontecendo sobretudo no comércio justo e agora com conferencias pipocando.
Fomos construindo uma agenda para 2007 e 2009, encontros na Europa (não se sabe ainda se na Itália ou na Suiça), e também um encontro na África (estão puxando para ser junto com o Fórum Social Mundial).
Foi construída também uma proposta de construção do planejamento da RIPESS que será feito de maneira descentralizada e por temática. Saiu também que cada região deverá ter um escritório regional, na América Latina devemos ter o nosso escritório em Lima. (Novamente saímos na frente, pois este será o primeiro escritório descentralizado).
Temos agora também um desafio em Dakar teremos o escritório central da RIPESS e para a integração sul-sul, a América Latina ficou de selecionar a pessoa para a coordenação geral deste escritório. Assim o presidente da RIPESS, o Abdul, tem uma equipe de suporte para as questões operacionais e estratégicas. Ainda temos que ver como seria a seleção desta pessoa.
Em 2009 na Europa (ainda não tem certo a cidade) teremos um grande encontro como foi o de Dakar em 2005. Será o 4º Encontro de Internacional de Globalização da Solidariedade. (1º foi em Lima, em 1997, o Segundo em Quebec em 2001, o terceiro em Dakar em 2005.)
A América Latina, que para nossa alegria é onde tem acontecido mais articulações supranacionais, para variar tá saindo na frente. Irmão Vicente, deve se lembrar do encontro em Santa Maria, onde se falava da possibilidade de fazer o II encontro latino americano de economia solidária e comércio justo. Então de cara já temos lugar e data será de 20 a 24 de fevereiro/07 ficou definido que este encontro será em Cuba, Habana. Temos que avaliar como podemos articular a nossa presença Marista neste encontro, vejam em anexo a convocatoria, e o formulário de inscrição). Existe ainda a possibilidade de um encontro maior sul-sul que seria no final de 2007 em Lima, para comemorar Lima +10 (onde foi o primeiro grande encontro da RIPESS) com a presença de gente de todo o sul do mundo.
Além do encontro da RIPESS e antes da Conferência de Economia Solidária, participamos ainda, (Daniel e eu,) de um jantar com representantes de diversas redes do Canadá em economia solidária. O melhor do jantar foi que ele aconteceu dentro de um empreendimento de economia solidária (do mais alto nível). É que o empreendimento é formado por pessoas com deficiência, desde surdo mudo até pessoas com dificuldade de locomoção. O lugar muito bem arrumado, com tudo que se tem direito e o serviço de copa perfeito. Fiquei encantada e comi um salmão maravilhoso.
Terminada a reunião da RIPESS começou a conferência, que foi simplesmente, perfeita, com a presença do primeiro ministro prometendo mundos e fundos e toda a conferência tocada pelo Canteiro de Economia social e solidária do Quebec (Fórum do Quebec de Economia Solidária). Participantes de 20 países e tudo muito bem organizado. Tivemos um Stand onde colocamos os nossos produtos e banners e comercializamos o que tínhamos levado dos grupos.
Tivemos a presença do Prof. Paul Singer, que foi o único de governo que não era do Quebec que usou a proferiu uma conferência. Isto enriqueceu a presença do Brasil e ampliou a nossa participação, usamos também o avental (abadá) que fizemos para as feiras para identificar a comissão brasileira. Isto também ficou legal.
Durante a conferência o Canteiro estava também comemorando 10 anos e fomos as comemorações do aniversário, que foi de forma bastante interessante, com o lançamento de um café equitavel (café do comércio justo) junto com o pessoal daquele empreendimento do restaurante, que ja falei antes. E precisa ver que lançamento com tudo muito bom, o café em uma embalagem linda e distribuído gratuitamente para os convidados um pacote de 250 grs.
Até o nome do café é político. O café recebeu o nome de um artista que também faz arte solidária e é portador de doença mental.
E não acabou ai.
Depois tivemos a comemoração de 10 anos de outro empreendimento que faz parte do Canteiro. Nossa fiquei realmente emocionada. O Espaço onde fomos é uma antiga fabrica, que foi recuperada e transformada em diversos empreendimentos, hoje é um complexo, ao todo são 36 empreendimentos, mais de 1000 trabalhadoras e trabalhadores, com metas que não são somente financeiras, mas sobretudo qualidade de vida. Por exemplo uma das metas e reduzir o espaço do estacionamento e a necessidade de carro, então tem linhas de metro e de ônibus que chegam perto do empreendimento, tem programa de apoio para carona e estacionamento de bicicletas. Hoje este complexo tem metas ousadas do ponto de vista financeiro um faturamento de 250.000 $can, 2500 trabalhador@s, do ponto de vista ecológico obter certificados de edifício ecológico (toda a planta esta sendo remodelada utilizando somente material ecologicamente correto, (enquanto aqui ainda estamos correndo atrás de produtos ecologicamente corretos)) além disto toda a linha de produtos e serviços visando o bem estar não só dos trabalhadores e trabalhadoras, mas de toda a coletividade. E o mais importante, eles reconhecem publicamente o valor do social da economia e isto é considerado um bem patrimonial.
A reunião da RIPESS aconteceu dentro de outro empreendimento, um cooperativa de credito solidário, que tem desde da planta (prédio) até a estrutura organizacional, pensada para dar visibilidade e transparência, por se tratar de um empreendimento financeiro, a transparência é um quesito fundamental. Na entrada do prédio tem um monumento pela democracia. Uma mesa redonda onde todos votam levantando a mão. As paredes internas são praticamente todas de vidro e a sala de reuniões fica bem no meio, onde não se decide nada de forma escondida, mas participativa e transparente. O Desjardins – Casa de Economia Solidária, como é chamada a cooperativa, reúne uma mistura de cooperativismo tradicional com o novo cooperativo solidário. Hoje mais de 80% das pessoas que tem conta corrente no Quebec tem conta no Desjardins. Todo lugar que iamos na cidade tinha um caixa popular, em toda a cidade, tanto nos centros importantes, históricos, como nos bairros mais simples. Igual no Brasil encontramos caixas eletrônicos de bancos particulares la se encontra as caixas populares.
Depois da conferência foi realizada uma feira (neste ponto temos mais a oferecer que eles), que era mais uma mostra do comércio justo. Tínhamos vários tipos de produtos e serviços, café, artesanato, produtos reciclados etc e também a nossa mesa, so que não tinha como colocar banner neste espaço. Na feira teve um desfile de roupas do comércio justo e a leitura da carta de Quebec, com as resoluções da Confêrencia.
Após a confêrencia e a feira fomos viajar para o sul do Quebec passamos pelo Vale de Ouro, por dentro de um parte lindo, muita água e muitas árvores e o frio foi apertando ate que chegamos na região de Abitibi-Témiscamigue. A turma brasileira fazendo a maior festa pois começamos a entrar na região onde estava nevando. Todo mundo igual bobo brincando na neve na hora que parávamos o carro para abastecer. A paisagem linda, toda branca e silenciosa.
Viajamos 600 kms e fomos conhecer primeiro, uma experiência de uma cooperativa de desenvolvimento regional, que primeiro faz um diagnóstico das necessidades da região e de acordo com a demanda estimula a criação de cooperativas populares para suprir aquela demanda, por exemplo em uma cidade onde tinham poucas funerárias e os preço dos enterros estava pela “hora da morte”, foi criada uma cooperativa funerária e os preços caíram pela metade do preço, esta é uma das experiências que pedimos mais informação pois, seria uma boa maneira para algumas regiões do Brasil e poderia ser casada também com as iniciativas de desenvolvimento territorial do MDA. Depois fomos conhecer uma cooperativa de produção de legumes em estufa, esta também é uma experiência super interessante, primeiro conhecemos o cultivo de tomates em estufa,em um tipo de hidroponia onde a polinização e feita com abelhas e zangões. E é tudo fantasticamente automatizado e informatizado, os tomates são selecionados, pasmem, pelo tamanho e pela cor que varia do verde até o vermelho vivo, E o precesso é coleta do fruto, depois são lavados, selecionadas, etiquetados e vão para caixas que são recicladas e são entregues por uma rede de distribuição. Eles também estão produzindo milhares de mudas de pinheiro para o reflorestamento da mata de onde se tira a madeira e produzindo também flores para sacadas e trepadeiras. Isto tudo climatizado, eles usam uma caldeira movida a óleo queimado e num processo super interessante com um filtro que não tem nem fumaça e o calor circula por tubos de agua quente que também servem de trilho para os carrinhos e cadeiras que as pessoas usam enquanto estão colhendo ou limpando os tomates.
Depois da visita que já aconteceu com a noite caindo, fomos para outra cidade onde estava começando um encontro regional de economia solidária e uma feira também regional. Este encontro também foi muito rico e deu para ver a dimensão da economia social e solidária. A cidade muito linda, toda cheia de neve e o lago no meio da cidade congelada, quase não conseguíamos andar na cidade de tanto frio. Na feira conhecemos muitos empreendimentos interessantes, trabalho com povos indígenas, trabalho com pessoas com autismo, produção de todo tipo de produtos e serviços, formação continuada com bolsa de incentivo e grande inclusão no mercado de trabalho.
Depois retorno para Montreal, chegamos a noite e no dia seguinte antes de viajar tivemos uma reunião de avaliação e planejamento com o pessoal do Canteiro. Onde avaliamos como positivo o intercâmbio e assinalamos pontos onde poderemos aprofundar a nossa parceria. Vimos a necessidade de conhecer mais de perto os diferentes tipos de cooperativa e associações que eles têm lá. Inclusive este tem um tipo especial de cooperativa que são cooperativas solidárias, coisa que não temos no Brasil. Conhecer as sua legislação e funcionamento. Queremos conhecer também as ferramentas de credito que eles têm (são 12 linhas inclusive uma criada agora com 15 anos de carência e especialmente criada para a economia social e solidária com 60.000 $can que será administrada pelo canteiro), temos interesse também nos materiais didáticos que eles utilizam para a autonomia e autogestão dos empreendimentos. Pelo lado do Canteiro eles querem entender melhor os nossos processo de regionalização, das cadeias produtivas (justa trama e outros), das feiras e da gestão política do Forum. Então vamos traduzir alguns materiais de francês para o português e vice-versa. Eles vão estar aqui no Brasil em fevereiro e junto com a nossa IV plenária.
Bem gente, depois so deu tempo de correr para o avião e chegar aqui. Em linha gerais foi esta a visita ao Quebec. Trouxe muitos materiais (tudo em francês) muitas fotografias digitais.
Um grande abraço,
Shirlei A. A. Silva