Fonte: http://www.jcnet.com.br, por Adriana Fricelli
Mantido pela Unesp, projeto recebe verba de R$ 50 mil e também contempla os assentados do grupo Terra Nossa
Em julho, os câmpus de Bauru, Ourinhos, Assis e Presidente Prudente da Universidade Estadual Paulista (Unesp) foram contemplados com R$ 150 mil do Programa Nacional de Incubadoras de Cooperativas Populares (Proninc), do governo federal, para a implementação de uma incubadora na universidade. A quantia foi liberada na semana passada, sendo que o câmpus de Bauru recebeu cerca de R$ 50 mil para o desenvolvimento de empreendimentos coletivos e autogestionários. No campo de trabalho da incubadora estão dois grupos de Bauru: os assentados do grupo Terra Nossa e mulheres do bairro Ferradura Mirim.
O resultado foi comemorado pelos oito membros – entre universitários e profissionais formados – que desde 2003 lutam pela institucionalização da incubadora junto à Unesp. “O projeto foi iniciado em 2003 por estudantes de relações públicas da Unesp. Mas por falta de apoio e com a graduação, eles tiveram que ir embora sem ver a concretização. Vamos dar continuidade ao que eles começaram”, diz a estudante de jornalismo da Unesp e integrante do projeto Kátia Pensa.
Apesar da liberação da verba, os membros da incubadora acreditam que o montante não será suficiente para a realização de todos os projetos. “O dinheiro é bom para começarmos, mas ainda é pouco. Com ele, vamos nos estruturar, pagar um coordenador e um bolsista. Mas a idéia é participar de outros editais e fechar parcerias com entidades públicas e privadas que compartilhem da nossa ideologia”, afirma Kátia.
Ainda sem sede, as reuniões da incubadora são realizadas semanalmente nas casas dos integrantes, mas a intenção é que, em breve, haja um espaço próprio na universidade. “Estamos em negociação com a Unesp para a concessão de uma sala com computador e telefone. É a mínima infra-estrutura de que precisamos para conseguir trabalhar”, diz Kátia.
Com o espaço, os membros da incubadora esperam contar com ainda mais participantes. “O caráter do projeto é multidisciplinar, com a participação de professores, funcionários e alunos de todas as áreas”, diz Kátia. Para isso, o grupo convida todos os interessados para a Feira de Idéias que será realizada amanhã, às 17h30, em frente à biblioteca no câmpus de Bauru.
Teoria e prática
Uma das maiores críticas feitas constantemente à academia está justamente na dificuldade em unir teoria e prática. Nesse sentido, o trabalho das Incubadoras Universitárias de Cooperativas Populares tem como objetivo cumprir a função da universidade: ensino, pesquisa e extensão.
Para isso, os membros promovem semanalmente discussões sobre economia solidária, que fundamenta todo o trabalho do grupo. “O maior difusor da economia solidária no Brasil é o economista Paul Singer. Ele propõe uma nova forma de trabalho que se pauta na cooperação ao invés da competição, e na autogestão ao invés da heterogestão predominantes na sociedade capitalista”, afirma a estudante de jornalismo Kátia Pensa.
Para colocar as idéias em prática, nada melhor do que tentar. “É na tentativa com os grupos incubados, errando e acertando que vamos aprendendo”, diz a jornalista Carolina Monteiro. No campo de trabalho da incubadora estão dois grupos de Bauru: os assentados do grupo Terra Nossa e mulheres do bairro Ferradura Mirim.
No assentamento, o grupo desenvolve desde o ano passado algumas atividades, como a construção de uma biblioteca e de uma horta orgânica comunitária e, no Ferradura, foi montada uma cooperativa de panificação. “Os dois trabalhos estão parados. Agora, com a liberação do recurso e com a infra-estrutura pretendemos retomar as atividades com o objetivo de geração de renda de maneira emancipatória. Mas vale lembrar que não vamos introduzir nada, as ações deverão partir do próprio grupo”, reitera Kátia.
Para o líder do assentamento, Celso Costa, o projeto é importante para o desenvolvimento do grupo. “É uma conquista não só para gente, mas também para a comunidade que será beneficiada com essa parceria”, afirma. O local abriga 140 famílias que produzem itens de hortifruti granjeiros e artesanatos em bambu.
Estrutura
Atualmente, existem 29 universidades espalhadas pelo Brasil que trabalham com incubadoras de cooperativas populares. A Unesp é a primeira delas a abrigar mais de uma incubadora, dividida em quatro núcleos autônomos, sob a coordenação geral do professor de psicologia do câmpus de Assis Carlos Ladeia
“Como teremos independência na metodologia do trabalho, poderemos trocar experiências com outros câmpus, mas também a distância será um empecilho que tentaremos resolver com reuniões periódicas entre os núcleos”, afirma.
A primeira dos grupos da Unesp foi realizada em julho em Ourinhos e contou com a participação das incubadoras da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), responsáveis por orientar o trabalho das incubadoras da Unesp.
O próximo encontro está marcado para este final de semana no câmpus de Bauru. “Será bom para dividirmos os anseios e conhecer o trabalhos de incubadoras que existem há anos”, afirma a jornalista Carolina Monteiro.
A incubadora de Bauru é coordenada pelo professor do curso de arquitetura da Faculdade de Arquitetura Artes e Comunicação (Faac) José Xaides Sampaio Alves, que coloca a importância do projeto. “É uma forma de estimular a organização social para superar barreiras, além de ser uma ponte entre o conhecimento produzido na faculdade e o popular, aproximando a academia da comunidade”.