Fonte: http://www.adital.com.br, por Marcelo Barros

Em todo o Brasil, grupos e comunidades populares preparam o 12º Grito dos Excluídos. Desde 1995, no 07 de setembro, além do desfile militar, as principais cidades brasileiras têm visto manifestações e passeatas de grupos e movimentos populares que expressam sua insatisfação com o rumo dado ao país pelos setores dominantes e sua decisão de construir um Brasil mais justo e verdadeiramente independente. O Grito dos Excluídos é uma iniciativa das pastorais sociais da Igreja Católica, com apoio e participação de sindicatos, movimentos populares e de todas as pessoas que crêem ser possível transformar a sociedade, a partir das bases. O 1º Grito foi conseqüência da 2ª Semana Social Brasileira. Hoje, o Grito acontece (no dia 12 de outubro) em diversos países latino-americanos e conta com eficiente articulação continental. Em toda a América Latina, os grupos e movimentos populares gritam por formas mais participativas de democracia não só política, mas econômica. Também exigem dos governos uma inversão de prioridades sociais e econômicas, subordinando outras lutas sociais e econômicas à preocupação com a vida e os direitos básicos dos mais pobres.

No Brasil, desde o 1º Grito dos Excluídos, a sociedade conquistou algumas vitórias. A política externa do atual governo não concluiu as negociações para a oficialização da ALCA, com as regras impostas pelo governo dos Estados Unidos. Esta posição nova do nosso governo, já tinha sido referendada não oficialmente, pela ampla consulta popular efetuada no Grito dos Excluídos de 2002. Milhões de pessoas votaram contra a adesão a ALCA. Decisões como esta ajudam a resgatar algo de uma verdadeira independência brasileira e a dignidade do nosso povo. Além disso, todos os organismos de pesquisa concordam: atualmente, a inflação é a menor dos últimos anos. Isso tem possibilitado preço mais acessível para os alimentos básicos, valor maior do salário mínimo e um aumento no número de empregos com carteira assinada. Organismos internacionais como a UNESCO e a FAO reconheceram uma melhoria na distribuição de renda da população brasileira. Apesar de todas as críticas justas que lhes podem ser feitas, vários dos programas sociais do governo estão sendo estudados pela ONU para ser aplicados em outros países pobres. Entretanto, tudo isso é apenas mera obrigação de quem governa um país e a sociedade civil tem de exigir muito mais.

Sem uma urgente e profunda reforma agrária e a implementação de uma verdadeira justiça no campo, todas as conquistas sociais se tornarão inconsistentes. Não basta ter um governo que dialoga com os movimentos sociais e não chama a polícia para acabar com manifestações que lhe sejam críticas, como ocorria em outras gestões. Temos de ir muito além disso. A sociedade brasileira não pode mais aceitar que a Política se torne sinônimo de conchavos espúrios e alianças de partidos que visam apenas a conquista de votos. O povo brasileiro não merece ver o coronelismo antigo travestido de pragmatismo político, unindo PT e Newton Cardoso, Marta e Maluf, Sarney, ACM, Quércia e Lula, sem que ninguém manifeste qualquer conversão de propostas. O conchavo politiqueiro é assumido desavergonhadamente, assim como os ministérios são loteados, não por critérios de competência ou de serviço ao povo e sim por conveniência partidária.

Por tudo isso, o 12º Grito dos Excluídos tem como tema: “Na força da indignação, sementes de transformação”. Este grito quer expressar a indignação ética que toda pessoa de bem sente ao ver a nobre arte da Política convertida no triste espetáculo da politicagem e ao saber da roubalheira que ainda mancha o Congresso. É verdade que esta epidemia de corrupção já vem de outros mandatos e, agora, comprovada, se Deus quiser, será punida. Mas, a indignação ética exige uma mudança estrutural das regras políticas e da forma de exercer ministérios.

Talvez haja quem estranhe ouvir grupos de Igreja, comprometidos com a espiritualidade, falar em indignação. Entretanto, os mais altos e inconformados gritos de indignação se encontram nas profecias bíblicas e no Evangelho de Jesus Cristo que proclamou: “felizes vocês que são pobres”, mas disse também “ai de vocês, ricos, ai de vocês que estão satisfeitos e ai dos que agora riem…” (Lc 6, 24- 25). Indignação ética é o zelo profético de toda pessoa que tem fome e sede de justiça.

Existe uma indignação paralisadora que fica no ressentimento e na raiva mal digerida. Quem, por exemplo, acha que todo político é corrupto e todos os candidatos se equivalem, vive esta confusão ideológica que, além de injusta com os políticos honestos, não provoca uma cidadania transformadora. Votar nulo é direito do cidadão, mas não contribuirá para a construção de um país mais justo e ético. O Grito dos Excluídos propõe que a força da indignação gere sementes de transformação ao devolver a sociedade civil e aos movimentos populares uma capacidade organizativa não só para denunciar erros do governo e cobrar mudanças do Congresso, mas para influir ativamente nas decisões políticas e apontar caminhos novos em um modelo de democracia participativa e popular.

Cidades do Distrito Federal organizam Pré-grito dos/as Excluídos/as

Várias cidades do Distrito Federal organizaram seu pré-grito dos excluídos. No Recanto das Emas a manifestação aconteceu no dia 2/9. Na Ceilândia o encontro foi no dia 3/9, às 10h, no estacionamento da Drogaria Nacional, ao lado da Feira Central, na Avenida Helio Prates. Em Santa Maria Sul, também no dia 3, a concentração aconteceu às 15h, no Galpão do Galego, conjunto E, lote 12, 1ª etapa, Condomínio Porto Rico. O Grito dos/as Excluídos/as acontece no dia 7/9, na Esplanada dos Ministérios. A concentração será às 8h30, na catedral. O lema do Grito deste ano é “Brasil: na força da indignação, sementes de transformação”.

Belo Horizonte recebe Seminário de preparação para o Grito dos/as Excluídos/as

Em 2 e 3/9 aconteceu, em Belo Horizonte (MG), o Seminário de preparação para o Grito dos/as Excluídos/as, que há 12 anos é realizado no Dia da Independência do Brasil. Entre os temas debatidos: Soberania Nacional; Democracia Participativa e Movimentos Sociais; Assembléias Populares como ferramenta na Construção do Brasil que queremos; Reestatização da Vale do Rio Doce; e Redução das tarifas de energia elétrica em Minas Gerais.

Calçadão da solidariedade acontece em Passo Fundo (RS)

O 4° Calçadão da Solidariedade tomou conta da Praça da Mãe, em Passo Fundo (RS), no dia 2/9. O Calçadão, que faz parte da programação do Grito dos/as Excluídos/as, denunciando as várias formas de exclusão, defender o meio ambiente e valorizar as organizações do povo em busca de vida e dignidade. Foi um momento de partilha e vivência solidária. Os manifestantes pediram engajamento para a construção de um novo projeto popular para o Brasil e consciência aos eleitores para exercem seu papel nas eleições e no exercício do mandato dos eleitos.