Fonte: Brasil de Fato (http://www.brasildefato.com.br/v01/impresso/161/internacional/materia.2006-04-06.1206836314)
Movimentos e organizações sociais discutem a globalização e os efeitos nefastos das operações militares dos EUA
Imperialismo, desmilitariazação e iniciativas de paz foram temas que mais ganharam destaque nos debates ocorridos no 6º Fórum Social Mundial (FSM) policêntrico, de 24 a 29 de março na cidade de Karachi, no Paquistão. O propósito do FSM é estabelecer um contexto para o intercâmbio e o debate do movimento mundial altermundista, que busca alternativas para a atual globalização. Este é o primeiro ano em que o Fórum aplica um enfoque policêntrico, em três continentes. As reuniões anteriores aconteceram em Bamako (Mali), de 19 a 23 de janeiro, e em Caracas (Venezuela), de 24 a 29 de janeiro, como contraponto ao Fórum Econômico Mundial que acontece no primeiro mês do ano na cidade suíça de Davos.
Mais de 15 mil pessoas, a maioria procedente de zonas de língua francesa da África, incluindo aldeias agrícolas, participaram de uma série de 600 reuniões em Bamako. E aproximadamente cem mil participaram do encontro na capital da Venezuela. Agora, cerca de 30 mil se reúnem em Karachi, pois este FSM, inicialmente previsto para janeiro, foi adiado por causa do terremoto que no dia 8 de outubro de 2005 devastou a região da Caxemira, com saldo de aproximadamente 80 mil mortos.
"O fato de a desmilitarização ter sido talvez o fio condutor e também prioridade número um entre os debates se explica por si mesmo", diz Fahim Zaman Khan, integrante da comissão organizadora do evento, pois sua sede faz parte da região alvo da militarização. "Por um lado, temos situações de ocupações militares infligidas pelos Estados Unidos – sendo o Iraque a mais recentes; por outro, existem ou são latentes situações críticas envolvendo dois ou mais países da região, como entre Índia e Paquistão, Nepal e Sri Lanka; ou entre Irã, Paquistão, Afeganistão, Azerbaijão, Turquia e Iraque; além de dezenas de conflitos internos espalhados por toda parte."
Segundo os organizadores do Fórum de Karachi, a militarização não apenas define as prioridades geopolíticas mas também está relacionado intimamente com os demais temas da agenda discutida no encontro: recursos naturais, desenvolvimento e globalização, justiça social e direitos humanos, identidades culturais e étnicas, Estado e religião, movimentos sociais e estratégias alternativas, mulheres, patriarcado e mudança social, meio ambiente e ecologia.
Para buscar mudanças para a economia e a sociedade é inevitável relacioná-las com o impacto da militarização, acrescenta Zaman Khan. No Paquistão, por exemplo, cerca de 70% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional é dedicado a gastos militares, enquanto que para a Educação e a Saúde são destinados míseros 3% do PIB.
Da mesma forma, não se pode discutir sobre os recursos naturais sem falar da ocupação estrangeira e da ameaça constante dos Estados Unidos ao Irã e à Síria. "Isso tudo tem a ver com o controle dos recursos naturais da região, como o petróleo e o gás", completa Karamat Alí, também integrante da comissão organizadora do fórum.
A desmilitarização da Ásia se coloca no coração das alternativas, uma vez que os Estados Unidos, em nome da luta contra o terrorismo, intensificaram sua presença militar na região. Numerosas tropas atuam no Iraque, Afeganistão, Azerbaijão, Turquia e Paquistão. O continente inteiro está sendo minado. (Com ALAI, www.alainet.org e IPS, www.ipsterraviva.net)