Fonte: Diário do Nordeste

Moacir Maia

Solidariedade é a base

A realidade que o mundo vivencia, hoje, pela magnitude dos desafios existentes no aspecto objetivo de permitir acesso ao trabalho e a um pouco da riqueza que se produz no mundo, tem determinado um sério e grave quadro de reflexões ao redor do globo no sentido de mudar as relações de produção e de mercado, atualmente dominantes no meio rural, que fortalecem práticas individualistas e excludentes, se sobrepondo aos valores éticos, morais e de justiça social. Nesse campo, as experiências pautadas na socioeconomia solidária têm tentado criar alternativas a esse tipo de relação contribuindo com o processo de integração entre produção, crédito, comercialização e consumo. Um grupo já representativo de ONGs tem trabalhado nesse sentido, funcionando como um sistema harmônico, interativo e democraticamente gerido pelos seus próprios beneficiários visando responder às suas necessidades de reprodução social e de desenvolvimento em moldes sustentáveis.

A missão comunitária

Essas organizações não-governamentais têm trabalhado procurando focar suas atuações no desenvolvimento de sistemas de micro financiamento e de modalidades de autogestão comunitária de instrumentos financeiros que permitam criar estruturas de beneficiamento e comercialização em moldes cooperativos e solidários. São objetivos que estarão sendo debatidos e avaliados no I Seminário Internacional de Socioeconomia Solidária, no período de 8 a 12 de novembro, aqui em Fortaleza.

Assinatura

O Cetra e o Instituto Florestan Fernandes, com o apoio da Rede Cearense de Socioeconomia Solidária e de outras dez entidades locais, vão realizar o seminário que tem na pauta desde a socioeconomia solidária e as práticas humanas até políticas públicas de economia solidária no Brasil.

O desafio maior

É claro que o desafio das finanças solidárias e do crédito tem sempre aparecido nesses debates porque encerra, de fato, um gargalho dentro das estruturas que buscam consolidar as gestões cooperativas. É assim que organizações de economia solidária de diversas regiões do País têm se articulado na Rede Brasileira de Socioeconomia Solidária, buscando confrontar o sistema e a globalização capitalista, tendo um projeto de construção, de baixo para cima.

Ação solidária

A socioeconomia solidária tem buscado, na ótica do movimento, “afirmar os valores do trabalho emancipado, a propriedade e gestão cooperativas dos meios de produzir as riquezas e reproduzir a vida, até a constituição de sujeitos do seu próprio desenvolvimento pessoal e social e o combate a toda forma de opressão e exploração econômica, política e cultural”. A rede busca interligar, de forma colaborativa, experiências que permitam pensar um novo modelo econômico.

Sucesso visível

Para quem pensa que se está falando de forma utópica, basta citar exemplos e experiências que, aqui no Ceará, já se tornaram referência para outras partes do mundo. O encontro vai servir, por exemplo, para que as delegações visitem as experiências do Fundesol, no Bom Jardim, do Banco Palmas, no Conjunto Palmeiras, as feiras do Dendê e o Coocredi de Itapipoca.

Pauta recheada

O encontro também vai debater o tema da Ecologia e a produção nas práticas de socioeconomia solidária, além de como fazer o comércio justo e solidário. Outra preocupação é a participação da mulher nesse modelo de cooperativismo autogestionário e popular e as experiências internacionais.

Visão no futuro

É uma oportunidade extremamente rica para que se aprofunde no debate sobre as redes de economia solidária que integram essas organizações na tentativa de intervir em todo o processo econômico, construindo cadeias produtivas integradas com redes de produtores e consumidores, que atuam de forma cooperativa e solidária, constituindo um espaço crescente de socioeconomia solidária no interior do próprio capitalismo, mas com uma postura de oposição ao modelo, criando outras alternativas.