Fonte: Roberto Marinho Alves da Silva (roberto.alves@mte.gov.br)

Autora: Rita Bridi (rbridi@redegazeta.com.br), do jornal A Gazeta de Domingo, 14 de agosto

Benedito, que deu nome ao bairro, é o santo da devoção de grande parte dos moradores do morro. Foi também a fonte de inspiração para o nome do banco comunitário, o primeiro do Espírito Santo, que vai atender os moradores de três bairros da Capital: Itararé, Penha e São Benedito.

O banco da comunidade é o Banco Bem, um projeto de desenvolvimento local, com inclusão social, voltado para geração de renda na direção da economia solidária. O Banco Bem, – o primeiro nome pensado para a instituição foi Bené, de Benedito – que será inaugurado no dia 6 de outubro, terá sua sede no topo do morro do Bairro São Benedito. E será mais uma opção de crédito, com juros baixos, de 0,25% a 1,5% ao mês, e de geração de renda para os mais de 22 mil moradores das três comunidades.

Junto com o banco, financiado com dinheiro de doações, virá a moeda Bem, que poderá ser usada no comércio local pelos futuros clientes do banco comunitário. Um bem terá o valor de um real e cada família terá direito a um crédito mensal de 100 bens (o equivalente a 100 reais). Se o pagamento for feito na data do vencimento, que é definida pelo tomador do crédito, não haverá cobrança de juros pelo empréstimo.

Inspiração. O modelo da instituição vem do Banco Palmas, de Fortaleza. Mas a idéia da criação do banco veio de um grupo de moradores da comunidade de São Benedito. Mais precisamente, dos 40 integrantes da Associação de Artesãos Ateliê de Idéias (Artidéias), que integra quatro grupos de trabalho: o de moda artesanal, o de culinária, o de produtos de limpeza, e o de marcenaria.

Em abril último, os associados da Artidéia foram flechados pela corrente do bem, quando receberam R$ 10 mil de doação de um grupo de moradores da Praia do Canto, que participa das obras sociais da Paróquia Santa Rita de Cássia. A presidente da Artidéias e coordenadora do Banco Bem, Leonora Michelin Labossière Mol, conta que houve muita discussão até se decidir pela criação do banco.

“A idéia de criar o banco comunitário ganhou corpo e virou um sonho dos 40 associados da Artidéias”, destaca Leonora. Ela se emociona, ao lembrar a ansiedade que tomava conta dos integrantes da associação, nas primeiras reuniões, quando ainda discutiram o que fazer com o dinheiro.

A indecisão dos associados a respeito da destinação do dinheiro faz sentido. O montante é uma quantia modesta, quando se fala do capital para iniciar um empreendimento, mas é um valor que representaria muito para os associados, se fosse dividido entre si. Muitos deles não devem se lembrar quando foi a última vez que receberam de uma só vez, algo em torno de R$ 250,00.

Ampliação. Mas, embalados pelo sonho de expandir a corrente do bem, venceram o desafio da sedução do dinheiro na mão e decidiram investir na criação do banco comunitário que tem a possibilidade de beneficiar muitas pessoas da comunidade, com o crédito barato e sem burocracia.

As atividades do Banco Bem serão iniciadas com R$ 9 mil, porque os associados decidiram utilizar a parcela de R$ 1 mil para a compra de equipamentos para a associação, explica Leonora. Desse total, R$ 8 mil serão destinados ao crédito produtivo e R$ 1 mil irão para o crédito de consumo.

A estruturação do Banco Bem foi discutida em julho, em três dias de reunião com a presença do presidente do Banco Palmas, João Joaquim de Melo Neto. A Companhia Siderúrgica de Tubarão (CST) apoiou a realização da oficina prática. Outro grupo, a Unimed, ajudará na compra dos equipamentos para montar o banco.

Quem será beneficiado

“Estou aprendendo a trabalhar em grupo”, Deusimara de Jesus Nascimento – 22 anos

Nascida no bairro São Benedito, está no grupo de produtos de limpeza desde em 2004. Gosta do trabalho que faz e de estar no grupo, onde está aprendendo a lidar e conviver com pessoas. “É difícil trabalhar em grupo. Aprendi a me controlar um pouco e ainda estou em desenvolvimento. Considero importante para minha vida o aprendizado da convivência em grupo”, destaca.

“Trabalhar na marcenaria é uma terapia”, Antônio José Loures – 42 anos, marceneiro

O baiano está no bairro faz três anos, mas o artesanato não é novidade em sua vida. Com experiência na atividade, agora, produz várias peças em madeira, a maioria jogos educativos. “Trabalhar na marcenaria é mais que uma atividade, é uma terapia”, destaca ao explicar que “é o ramo que eu gosto de mexer”. Antônio diz que se sente realizado com o trabalho que faz e aguarda com ansiedade a abertura do Banco Bem.

“Conto os dias para a inauguração”, Josefa Barbosa da Silva Santos – 54 anos

É uma das 12 integrantes do grupo de culinária e das mais antigas da associação. nasceu na Bahia e mora no bairro faz 14 anos. Ela gosta de fazer salgados e considera o trabalho importante pela ajuda financeira e pelo crescimento como pessoa. Está tão animada com a chegada do banco solidário que chega a contar os dias para a inauguração. A alegria é tanta que escreveu um poema para saudar a conquista da comunidade. “O sonho de quem ajuda é ver os grupos irem além. Espero que isso aconteça com a chegada do Banco Bem”, é um dos trechos do poema.

“É oportunidade de aprender coisas novas”, Patrícia de Oliveira – 26 anos

Participa do grupo de moda desde a criação, em 2002, e faz um pouco de tudo: bordado, pintura em blusas e tecidos, panos de pratos, toalhas, jogos americanos. “A participação no grupo é importante pela oportunidade de aprender coisas novas nos cursos”. Pretende continuar na atividade e aprendendo sempre. A vinda do Banco Bem, acredita, vai ajudar a todos.

Se você quer conhecer o projeto ou fazer doações, o contato é pelo telefone (27) 9271.2457