Fonte: Núcleo de Pesquisas da Radiobras (www.radiobras.gov.br)

Produção de duas mil peças entre bolsas, almofadas, suporte para telefone, chinelos e outros itens que deverão render um faturamento anual de cem mil reais a ser dividido entre as oitenta artesãs de três municípios do noroeste paranaense: Campina da Lagoa, Cidade Gaúcha e Goio-erê, que trabalhavam de maneira isolada e agora estão se unindo em um projeto de economia solidária.

O ponto de partida do projeto é aproveitar matérias-primas locais para o desenvolvimento da linha de produtos: Campina da Lagoa entra com o bambu; Cidade Gaúcha com os corantes naturais e Goio-erê com os fios de algodão. A união desses três ingredientes em um sistema de produção consorciado aproveitara habilidades individuais para desenvolver uma linha de produtos coletivos. O resultado da venda será dividido, de acordo com uma planilha de custo pré-estabelecida e aprovada pelo consenso das partes envolvidas.

Segundo a artesã Cleide Ferreira Mattos, da Associação dos Artesãos de Cidade Gaúcha (Arteciga), “a principio vamos colocar nossos produtos no comércio local, depois no regional e com uma boa dose de esperança, esperamos até exportar”. Um dos pilares de sustentação do projeto é atuar no cenário da economia solidária. Nas três cidades, o artesanato era uma atividade marginal até então desenvolvida de forma isolada. “Com a iniciativa, o trabalho coletivo é valorizado, é o fio de esperança para a conquista de respeito, do resgate da auto-estima – cada grupo vai dar o melhor de si, para transformar, o que ainda é um sonho, em realidade”, destaca Natie Uessugue Mannari, de Goioerê.

Em Campina da Lagoa, município que sobrevive exclusivamente da agricultura, o projeto é considerado a redenção da atividade econômica Sem opções de emprego, comércio limitado, indústria inexistente, o artesanato é uma atividade exercida, na maioria das vezes, por mulheres, donas-de-casa ou aposentadas, se constituindo numa das poucas opções que restam para reforçar o orçamento familiar. “Depositamos todas as fichas no projeto. Embora muito mais complicado do que esperávamos, temos fé, cremos no sucesso dele e de todas nós”, resume a artesã Maria Aparecida da Silva do grupo de artesãs de Campina da Lagoa, a Lagoarte.

Outra proposta é conciliar atividades. Independente do trabalho consorciado, integrado e organizado, cada grupo é incentivado a dedicar parte do tempo na produção de artigos próprios. “É uma fonte de renda alternativa. Até estabelecermos os canais de distribuição dos itens consorciados”, explica Maria de Fátima Rodrigues de Mattos, de Cidade Gaúcha.

Laurinda Marcelina de Souza, da ARTEGOIO de Goio-erê, afirma que “o aprendizado proporcionado pela fase atual do projeto tem sido gratificante”. As experiências de pessoas residentes em cidades distantes, com realidades distintas, contribuem para fortalecer o relacionamento e sedimentar as bases de uma convivência harmoniosa, pessoal e profissionalmente. Para ela “É uma mudança radical, profunda na visão do que é o artesanato, do que é produzir em conjunto, do que é ter sucesso coletivo”.

“O otimismo e a dedicação das artesãs é alimentado por entidades e instituições que dão apoio ao projeto. “O Sebrae/PR, as prefeituras e outros parceiros fornecem o combustível para manter acesa a chama da esperança” afirma Elvio Saito, coordenador do programa de incentivo ao artesanato do SEBRAE que, alem do suporte técnico, oferece cursos, palestras, visitas a feiras e eventos voltados para o desenvolvimento das pessoas envolvidas com a iniciativa.

No Brasil o artesanato reúne 8,5 milhões de pessoas que conseguem obter uma renda mensal que varia de dois a três salários mínimos em média. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a atividade é responsável por 2,8% da riqueza nacional (Produto Interno Bruto), com um faturamento de U$ 15 bilhões ao ano. Enquanto que um emprego na indústria automobilística requer um investimento inicial de R$170 mil no artesanato um emprego é gerado com um investimento de apenas R$50,00. No Paraná são 25 mil artesãos reunidos em 300 associações ou cooperativas de produção. O setor utiliza na maioria das categorias matéria-prima natural e emprega geralmente mulheres e adolescentes, estimula o associativismo e contribui para a fixação do artesão em seu local de origem.

Endereços para contatos: Cleide Mattos – Cidade Gaúcha – (44) 675 1182 ARTECIGA Natie – Goio Ere (44) 522 4807 ARTEGOIO Laurinda – Goio Ere (44) 522 6019 ARTEGOIO e Olinda / Vanderci – Campina da Lagoa (44) 542 1406 LAGOARTE.