Bancos Comunitários têm braço longo o suficiente para chegar aos mais pobres

Fonte: Núcleo de pesquisas da Radiobrás: www.radiobras.gov.br

Para Joaquim Melo, membro da equipe de gestão do Banco Palmas do Ceará, somente os bancos comunitários possuem agilidade necessária e braço longo o suficiente para chegar aos mais pobres pois, só eles, têm a liberdade de agir sem burocracia, com taxas de juro e análises cadastrais suportáveis. São eles que têm coragem suficiente para correr riscos de investir nos pobres e a ousadia para construir redes de economia solidária operando com moedas alternativas e mecanismos de solidariedade que desafiam a competição capitalista.

Fundado em 1998, o Banco Palmas já emprestou 663 mil reais em 1560 operações de micro-crédito beneficiando 1400 famílias do Conjunto Palmeira, um bairro popular com 30 mil habitantes localizado na periferia sul de Fortaleza-CE, caracterizado por um elevado índice de pobreza.

Para falar da diferença entre um banco comunitário e uma instituição bancária convencional, Joaquim conta a história de Maria Darcília que em janeiro de 2003 procurou o Banco Palmas desempregada e em uma situação de desespero. Viúva, mãe de quatro filhos, dentre estes três menores, com dividas no mercado e com o nome no SPC. Encontrava diariamente dificuldades para conseguir alimentação para sua família. Não tinha renda e morava em um barraco no Conjunto Palmeira. O Banco Palmas cedeu uma máquina de costura para Darcília trabalhar e permitiu que ela ficasse produzindo no galpão da Palmafashion (a grife das costureiras do Banco Palmas). Para que ela pudesse começar a confeccionar concedeu um crédito de 400 reais para compra de tecido. Com dois meses, concedeu um segundo e no final do ano Darcilia já recebia seu quarto crédito no valor de 1.000 reais. Claro, isso só foi possível porque pagou pontualmente todos os créditos recebidos. No final de 2003 Darcilia comprou duas outras máquinas de costura e empregou mais duas pessoas para trabalhar com ela. Foram confeccionando e comercializando no bairro, mais principalmente costurando para outras empresas da região. Em março de 2004 compraram outras duas máquinas. Hoje, em janeiro de 2005, Darcilia emprega sete mulheres do bairro, tem oito máquinas e uma renda mensal de 500 reais por mês! Cada mulher que trabalha com Darcilia ganha mensalmente um salário mínimo.

Os recursos do banco provém de doações da cooperação internacional: os principais são Oxfam (da Inglaterra), Gtz (Alemanha) e CESE (entidade ecumênica que capta recursos de igrejas cristãs na Europa) – toda a carteira do Banco está hoje em torno de 60.000 reais. Os recursos são utilizados para os empréstimos e acompanhamento as empresas financiadas pelo Banco, dentre elas estão a Palmafashion de confecções com 22 empregados, a Palmalimpe de material de limpeza com 5 empregados, a Palmacouros de bolsas e cintos com 3 empregados, a Palma Limpeza de Ambientes de serviços de limpeza com 7 empregados, a Palmart de artesanato em tecido com 6 empregados e a PalmaNatus produzindo sabonetes e remédios naturais com 3 empregados.

O banco também financia o consumo dos moradores do bairro, associados da Associação dos Moradores do Conjunto Palmeiras -ASMOCONP, que utilizam 250 cartões de crédito PalmaCard para fazer compras no comércio local que negocia com os P$ 10.000 (dez mil Palmas) em circulação, moeda social emitida e administrada pelo banco.

Para Joaquim Melo o grande desafio é tornar a experiência do Banco Palmas uma política pública, ou uma política de governo, para conseguir se multiplicar em escala pelo Brasil afora. O Banco Palmas desenvolve ações para o primeiro emprego (financia e acompanha empresas com jovens – Palmalimpe, por exemplo), recupera e insere no mercado mulheres em situação de risco, promove agricultura urbana, feiras de trocas e capacitação dos “prosumidores” (produtores e consumidores). Para ele o banco desenvolve uma série de ações que deveriam ser perfeitamente políticas públicas de desenvolvimento voltado para os mais pobres. “Mas, infelizmente isso não acontece”, lamenta, lembrando que “para os pobres só sobra esmola, cadeia ou manicômio, enquanto isso a comunidade tem que – sozinha – conseguir recursos no exterior para resolver problemas sociais que são da inteira responsabilidade do poder público.”

Para os gestores do Instituto Banco Palmas, organização encarregada de prestar assistência a comunidades na implantação de bancos comunitários, os financiamentos públicos não conseguem atingir as pessoas em situação de extrema pobreza, mesmo os empreendimentos voltados para a lógica do desenvolvimento e da geração de renda de forma sustentável e apesar dos recentes programas de bancarização do Governo Federal, os programas dentro dos bancos oficiais e particulares que concedem crédito para os mais pobres “estão muito aquém da necessidade da maioria que têm seu nome citado no SPC, SERASA, CADIM – esses não têm fiador nem patrimônio”.

O banco tem hoje 500 pessoas na fila esperando crédito “mas não temos dinheiro para emprestar porque o banco não pode fazer captação de recursos em contas de poupança” reclama o gestor do banco Palmas ponderando que a atual legislação brasileira dificulta a ação dos bancos comunitários. Uma das saídas encontradas para superar essa dificuldade é a criação da PalmaCoop – Cooperativa de Crédito Urbana, Popular e Solidária [leia matéria sobre a PalmaCoop].

Contatos com o banco podem ser feitos através dos endereços eletrônicos:

bancopalmas@uol.com.br e banco@bancopalmas.org.br