Autor: Ademar Bertucci (maio de 2005)

Em 2005 o Fórum Social Mundial vivenciou uma inédita experiência: boa parte das atividades de abastecimento e comercialização foram assumidas pelos empreendimentos da economia solidária brasileira.

O Fórum Social Mundial, desde sua primeira edição, em 2001, em Porto Alegre, foi o espaço de aglutinação e confluência de diferentes redes da Economia Solidária no mundo. No Brasil, a tarefa de acolher as redes internacionais e conquistar espaço para a Economia Solidária dentro do próprio Fórum Social Mundial, levou a que um conjunto de organizações de expressão nacional se reunissem em torno do Grupo de Trabalho Brasileiro da Economia Solidária.

Ao final de 2003, com a vitória de Lula, esse Grupo de Trabalho assumiu a articulação e mobilização de proposições para o governo a ser instalado. Naquele momento o Grupo de Trabalho ampliou-se, assumindo uma Carta ao Governo Lula cuja principal reivindicação era a criação de uma Secretaria Nacional da Economia Solidária, no âmbito do Ministério do Trabalho.

A ampliação do Grupo de Trabalho reflete a diversidade de contribuições, práticas e representações de segmentos da sociedade civi, a nível nacional, que confluem para a unidade em torno da Economia Solidária. Organizações e redes oriundas de diferentes setores, como sindicatos, universidades, pesquisa, ação de cidadania, campo, cidade, igreja, fundos de crédito, meio ambiente, consumo, trocas, gestão pública, etc. dão a tônica à necessária convergência.

O GT ampliado assumia o compromisso de construir uma Plataforma Política junto aos principais segmentos atuantes no campo da Economia Solidária e de estimular a criação de um Fórum Brasileiro para ser o espaço de organização e mobilização do movimento e ao mesmo tempo ser a interlocução junto ao governo.

Como resultados dessas iniciativas foram criados a SENAES (Secretaria Nacional da Economia Solidária), sob a direção do professor Paul Singer, indicado pelo próprio movimento e o Fórum Brasileiro da Economia Solidária (FBES), resultado de 3 plenárias nacionais, articuladas a partir de 17 estados brasileiros no decorrer de 2004.

O FBES definiu uma Carta de Princípios, uma Plataforma Política constituída de 7 eixos (Finanças, Marco Legal, Cadeias Produtivas, Tecnologia, Educação, Comunicação e Organização do Movimento) e sua coordenação nacional composta de 3 grandes segmentos: os emprendimentos auto-gestionários, as organizações de assessorias e fomento e a rede de gestores públicos comprometidos com ações de políticas da Economia Solidária.

Decorridos dois anos, destacam-se avanços do movimento: expandiu-se para todos os 27 estados brasileiros, interiorizou-se para micro-regiões, ampliaram-se as adesões de empreendimentos, organizações e redes, mapeam-se cerca de 20.000 empreendimentos, negociam-se recursos junto à esferas federais, estaduais, municipais, articulam-se feiras e formas de comercialização permanentes, propõem-se legislação própria em diferentes níveis e setores.

Outros de desafios entretanto permanecem: a identidade do movimento frente à diversidade de iniciativas e segmentos produtivos; o rompimento do corporativismo das organizações para uma atuação mais “solidária”; a relação entre a economia popular e a economia solidária; a interlocução do movimento com outros movimentos sociais já constituídos; a superação das políticas de governo de “balcão” e a estruturação de Políticas Públicas, entre outras.

Com a criação, este ano, do Conselho Nacional da Economia Solidária e a mobilizações para as Conferências Estaduais e Nacional, até início de 2006, espera-se que o movimento da Economia Solidária no Brasil atinja um outro patamar de visibilidade e de definição de projeto político que lhe assegure o direito a constituição de um setor próprio da economia, a do trabalho associado.